Capítulo 14

              Eram cerca de dez horas da manhã. Tranmency Town aos poucos ia formando movimento, embora que muito menor que qualquer outra cidade. A tranqüilidade era um dos pontos fortes do lugar, a única coisa que fazia barulho considerável era a Torre de Rádio, localizada à esquerda superior da cidade. Drake, Lilly e Sam haviam acabado seu café–da–manhã, e o jovem estava pronto para ter um dia aproveitando ao máximo a cidade.

                –Hoje então enfim teremos um dia calmo para nos tranqüilizar, certo? –Perguntou o garoto apenas querendo confirmar.

                –Certo... –Falou Drake um pouco cabisbaixo, explicando–se em seguida. –Fiquei meio chateado por ter perdido o Contest ontem...

                –Ora, você nem estava preparado! Se saiu até bem, para eu ser sincero. –Incentivou Sam.

                –Se saiu bem uma ova!  Você perdeu em uma situação tão simples, foi até ridículo! –Falou a menina rindo.

                –Como é que é? Desculpa “senhorita experiente” mas até poucas semanas atrás você não fazia idéia do que eram ataques que alteram Status! Tenho muito mais experiência que você, então fica na sua! –Falou ele rudemente.

                –Ah é? Pelo menos eu não fico tonta quando falam do nome de alguma pessoa! Enquanto que você tinha uma vida fácil em Snowpoint City muita gente como eu estávamos ralando para sobreviver aos Pokémons loucos! –Acusou ela.

                –Fácil? Quer saber, melhor você calar a sua boca porque não sabe o que eu passei! –Reclamou ele.

                –Ahh não?  Duvido que tenha sofrido mais que eu, com uma família famosa e tendo tudo o que queria! –Disse a garota pondo fim na conversa.

                Drake saiu do lugar praguejando aos berros, enquanto que Lilly permanecia gritando com o garoto mesmo à distância. Um clima pesado havia restado no lugar, deixando Sam completamente assustado.

                –L–Lilly! Isso foi horrível! Olha como o Drake ficou! –Falou o jovem.

                –Argh! Não interessa, vai atrás dele então!  –Disse ela saindo do cômodo

                –P–por que eu sempre acho que teremos um dia “calmo e tranqüilo” e essas coisas acontecem? –Disse Sam para si mesmo.

                O jovem saiu do Pokémon Center logo em seguida, tentando ele mesmo aproveitar o dia de folga. As pessoas nas ruas acenavam e puxavam conversa, enquanto que o garoto com o maior prazer respondia todos com bom–humor. A cidade era pitoresca e confortável, parecia que todas as humildes casinhas eram feitas detalhe por detalhe, enquanto que as plantas e flores pareciam terem sido escolhidas a dedo. Porém a cabeça de Sam parecia não estar acomodada na situação, ainda presa no acontecimento dos últimos instantes.

                –Ahh é melhor eu esquecer isso por hora, o dia está bonito demais para ficar bravo com alguém. –Falou ele deitando–se na grama de um campinho –Que ar puro, que tranqüilidade... Isso sim é que é vida.

                O garoto ouvia uma criança junto aos pais baterem na porta de uma casa, vendo eles mencionarem estarem visitando o avô do garotinho. Ao fechar os olhos e ouvir a conversa parecia que Sam tinha singelas lembranças de alguns anos atrás.

                Início de Flashback

                –Filho, eu e a mamãe vamos ter que viajar várias vezes por causa do nosso trabalho, então acho que é melhor você morar aqui com o vovô.  –Falava um homem dirigindo–se a Sam, como se tivesse escolhido avisar a criança no último instante

                –M–mas pai... Eu quero ir com vocês!  –Falava o garoto eufórico.

                –Você vai adorar aqui, e sempre que possível nós viremos te visitar, tudo bem? –Falava a mãe enquanto que acariciava os finos cabelos do garoto.

                Naquele momento o pai pareceu remexer o bolso e entregar algumas esferas nas pequenas mãos do filho, que recebera os objetos com surpresa.

                –M–mas... Você está me dando esses Pokémons? –Perguntou ele confuso.

                –Emprestando é a palavra certa, mas fique contente em usá–los. Tenho certeza que quando os combinar com seus Pokémons irá formar um perfeito time com Pokémons fósseis. Concluiu o homem fazendo o garoto revelar um sorriso de orelha a orelha. Agora aquilo não era mais um problema.

                Fim de Flashback

                –Ahh pai... Mãe... Queria ter vocês comigo de vez em quando... –Suspirou o jovem olhando para o céu.

...

                –Que desaforo! Odeio quando ele se acha e fala como se fosse melhor! Argh! Por que meninos são sempre assim? –Praguejava Lilly, assustando todos que a viam por seu estresse. –E como se não bastasse estou em uma cidade comum. Que maravilha! Nada de emocionante...

                Quase que ao mesmo tempo que a garota pronunciava aquela frase ela parou para observar a Torre de Rádio, e vira alguns guardas suspeitos no local. Eles vestiam roupas roxas e calças pretas, com um “D” estampado em seu uniforme. Certamente eram a Equipe Dark.

                –Darks? De novo? Ahh então era para cá que estavam vindo. Legal, pelo menos posso esquecer o tédio por enquanto. –Falou ela com um sorriso determinado no rosto.

                Na primeira distração dos guardas a garota adentrou o local, avançando os andares aos poucos. Ela facilmente encontrava outros guardas e os despistava, porém quando não era possível ela batalhava usando seus Pokémons, mais especificamente sua Harppy. Em determinado momento, ela chegou em uma sala, onde ela apenas ouviu por atrás da porta, mas foi capaz de entender vozes conhecidas.

                –Anda logo Grim, você é uma lerdeza. –Falava uma mulher com uma voz confinante mas ao mesmo tempo sedutora.

                –Quer fazer então? Se quer saber você não manda em mim, estamos na mesma hierarquia. –Concluía o homem, obviamente o mesmo que já havia encontrado os jovens várias vezes.

                –E eu aí com a hierarquia? Anda seu cabeçudo. –Apressava ela.

                –É Grim, ta demorando muito! –Falava outra voz, essa certamente do rapaz encontrada na Fuego Ironworks.

                –Você fica na sua também, Fear. Não é melhor que ele. –Insultava a moça

                –Quem é ela? Outra comandante? –Sussurrou Lilly.

                Naquele momento alguém abrira a porta, e a garota que estava apoiada na mesma caiu na sala, assustando os comandantes ali presentes. Os dois homens olharam assustados, apontando para a menina com extremo ódio. A mulher por sua vez era linda, porém sua beleza parecia ser esquecida em meio ao uniforme da facção, e sua expressão não era de alguma pessoa que certamente estaria preocupada com beleza.

                –Aquela garota! –Falaram os dois.

                –Essa é uma das crianças que vocês falaram? Há, acabo com ela em dois tempos, vocês são patéticos. –Disse ela sacando uma Pokébola.

                –Pode vir, nenê. –Desafiou a menina.

...

                Drake ainda permanecia zangado e ao mesmo tempo triste. Os assuntos que Lilly mencionara eram certamente muito pessoais. O garoto estava sentado em uma praça, onde crianças passavam brincando a todo momento, e ele jazia em um banco, com uma expressão mortal. Aos poucos um perfume maravilhoso parecia estar se dissipando no ar, um cheiro de rosas. Quando Drake olhou viu ninguém mais ninguém menos que sua rival do dia anterior, Rose Shine. A garota permanecia com uma beleza impecável e parecia preocupada em ver o amigo naquela situação.

                –O que foi, Drake? Você está bem? –Perguntou ela aproximando–se.

                –M–me deixa em paz. Eu não preciso da ajuda de ninguém, nunca precisei e nunca vou precisar! –Disse ele rudemente.

                –D–desculpa... Só que... Quando estamos com outra pessoa ou desabafamos é muito mais fácil nos sentirmos melhor. –Explicou ela sentando–se no banco.

                –Que seja. –Falou ele olhando par ao outro lado.

                –Você está triste com alguém? –Questionou a garota.

                –To... Com aquela infeliz da Lilly. –Falou ele.

                –Ahh, aquela garota que estava com você, não é? Eu não a conheço muito bem mas parece uma pessoa bem brava. –Brincou ela.

                –Ela é idiota. Não sei por que ainda estou viajando com ela, devia ter deixado os Harppys comerem ela viva da última vez. –Praguejou ele.

                –Drake, tenho certeza que se estão em uma jornada é porque são amigos. Tenho certeza que já se ajudaram e tiveram momentos contentes. Lembre–se, os amigos são o tesouro mais preciso na vida dos humanos. –Falou a garota.

                Drake pareceu concordar com a cabeça, mas no segundo seguinte seus olhos se arregalaram e ele virou completamente espeloteado para a menina.

                –Como é que é? Você pode repetir?

 –Falou ele segurando os braços de Rose.

                –Algum problema? Você ficou meio esquisito de repente. –Perguntou ela confusa

                –N–não foi nada. Só que... Você lembra muito uma amiga minha... –Suspirou ele.

                –Entendo. Agora por que não vai fazer as pazes com a Lilly, tenho certeza que se entenderão. Sugeriu ela.

                –Tudo bem. Obrigado mesmo Rose. –Falou ele abraçando a amiga. –Você me ajudou muito!

                –Não tem de quê. –Sorriu ela.

                O garoto logo em seguida se levantou e saiu com sua alegria natural procurando os amigos. Ele logo encontrou Sam, que parecia um pouco perdido.

                –Hey Sam, onde ta a Lilly?

                –Eu não tenho certeza, mas acho que vi ela entrando na Torre de Rádio. –Apontou ele.

                –Ótimo, então vamos até lá! –Concluiu o garoto.

                Naquele momento não parecia haver mais tantos guardas, sendo que o fato de uma intrusa ter entrado na torre era polêmico. Os jovens subiram as escadarias as pressas, procurando urgentemente a garota, pois sabiam do que os Darks eram capazes embora que Lilly fosse um pouco confiante demais. Não demorou para que eles encontrassem a garota batalhando.

                Lilly usava sua Harppy, que parecia tão eufórica quando a treinadora. A adversária usava um Pokémon de Sinnoh, conhecido como Mismagius. Era uma espécie de bruxa, que tinha um olhar confiante, enquanto que um sorriso macabro assustava os oponentes. Ela possuía um vestido roxo e rosa detalhado e bonito, que parecia ser enfeitiçado, enquanto que pedras vermelhas cobriam seu pescoço. Diziam que as pedras do colar de Mismagius guardavam o medo das pessoas ao avistar esse Pokémon.

                –Harppy, use o Wing Attack! –Comandava a garota.

–Mismagius, use o Psywave! –Ordenou a mulher

A onda psíquica do Pokémon pareceu não só acertar o Pokémon como parte do teto, que parecia frágil e prestes a cair. Em um movimento Drake saltou e empurrou Lilly, salvando–a de um pedaço do teto que poderia tê–la ferido gravemente.

–D–Drake? Que susto que você me deu moleque! –Reclamou ela.

                –Vou te ajudar! Vai Spark! Use o Wild Charge! –Pediu ele.

                De sua Pokéball saiu o pequeno Emolga, já realizando o poderoso movimento em direção da Pokémon fantasma.

                –Harppy, detona eles com o Gust! –Disse Lilly.

                A batalha continuara, até que pouco antes do turno de Lilly, a ave fosse tomada por uma luz branca, revelando uma evolução. A Pokémon não mudara muito, apenas havia crescido e se desenvolvido melhor, tornando claro que sua força havia aumentado bastante.

                 –WOW! A Harppy evoluiu! –Falou Drake surpreso.

                –Harddy, ein? Wing Attack! –Comandou Lilly agora completamente confiante.

                –Acabei! Podemos dar o fora. –Interrompeu Grim, levantando–se de uma cadeira. O homem estava em um computador, mas pareceu desligar o aparelho e pegar um Pendrive que estava plugado.

                –Excelente, retorne Mismagius! –Disse a mulher recolhendo o Pokémon. –Bom,crianças, a qualquer momento que eu queira eu posso exterminar vocês. Então eu sugiro que mantenham–se longe de nós, por suas próprias vidas...

                Após ameaçá–los, a mulher seguida dos dois comandantes deixou o local rapidamente após fazer um sinal para os soldados. A polícia adentrara o lugar, ajudando todos os reféns. Lilly virara para os amigos e fizera um sorriso amigável.

                –Obrigada pela ajuda, meninos. –Agradeceu ela.

                –Não tem de quê... Mas acho que vocês precisam conversar. –Disse Sam.

                Os dois subiram na Torre de Rádio até chegar ao terraço. Os dois sentaram–se e observaram o pôr–do–sol que estava bem em frente a eles. Parecia que naquela cidade era possível observar melhor esse fenômeno

                –Foi mal Lilly, acho que eu peguei um pouco pesado com você. Eu também não sou assim tão experiente assim... –Desculpou–se ele.

                –Eu que me desculpo. Acho que eu me empolguei um pouco. Mas toma cuidado, porque eu não menti o que eu penso. –Disse ela dando um tapinha nas costas do amigo.

                –Ahh quer saber? Prefiro uma amiga assim sincera do que falsa. –Sorriu ele.

                

                 Após um dia repleto de emoções e sentimentos, o último dia em Tranmency Town acaba de encerrar-se. Drake passara, com a ajuda de Rose a ser mais tolerante com outras pessoas, e com certeza, Lilly também. Porém, muitas coisas ainda ficaram mal explicadas, principalmente quanto a Equipe Dark. Que misterios essa facção ainda guarda?