Capítulo 12

 

                 O relógio anunciava dez horas da manhã.  O movimento em Aurora City já estava considerável, chegando quase ao seu horário de pico. Nossos protagonistas já haviam tido um belo café–da–manhã no tranqüilo (ou não) Pokémon Center e estavam prontos para deixarem a grande metrópole depois de memoráveis dias, seguindo para uma cidade mais tranqüila e mais rural, conhecida como Tranmency Town

                –Hora de sair de Aurora City, pessoal! –Disse Sam pegando sua maleta e esboçando um sorriso por deixar todos os mistérios e emoções passados nos últimos dias no passado.

                O Pokémon Center não estava mais tão calmo. Muitos treinadores entravam e saiam com Pokémons feridos quase que simultaneamente. A enfermeira Joy parecia tentar manter o sorriso em seu rosto e a voz no mesmo tom, mas era bastante trabalho para uma pessoa, e ainda que ela tivesse Pokémons para ajudá–la era algo complicado. Ao ver os jovens comentando que sairiam para Tranmency Town ela deixou seu posto e foi falar com eles.

                –Aguardem um momento, por favor. A saída norte de Aurora City está interditada desde hoje cedo, peço que aguardem mais algumas horas pois no horário de almoço já poderão sair da cidade indo para Tranmency Town. –Explicou ela

                –Ahn... Isso explica a barulheira de hoje cedo... Caraca! Será que eu não posso dormir como um ser humano normal nessa cidade? –Reclamou Drake fazendo a enfermeira Joy soltar um riso sutil. O garoto não tardou a começar a bater a cabeça na parede sem tanta força, hábito que tem quando algo não dá certo.

                –Bom, eu vou dar um “oi” para meu avô. Faz um tempo que eu não ligo... –Falou ele aproximando–se de um dos grandiosos telefones com visor do Pokémon Center –Está ocupado... Vocês tem contato com seus pais desde que saíram em nossa jornada?

                –Não cara, e eu estou com medo de ligar! Se eu ligar minha mãe vai xingar até meu ouvido sangrar de eu ter demorado pra lembrar dela, então é melhor fingir que esqueci. –Comentou Drake fazendo os dois amigos caírem na risada, imaginando a linda Alice Eavans em um momento de raiva.

                –Que filho exemplar... –Ironizou Sam. –E você, Lilly?

                –E–eu? Na verdade não... Faz tempo...É que eu não sei usar o telefone dos Pokémon Centers. –Mentiu ela obviamente, ainda enganando Drake.

                –Ué, eu te ensino, é mó facinho. –Disse ele.

                –E–eles devem estar trabalhando essa hora... Dá licença que eu vou no banheiro! –Falou ela se retirando. Certamente ela não queria ligar para seus pais, ainda que os amigos não soubessem o por quê.

                Sam e Drake deixaram então o Centro e saíram para dar uma última olhada na grande metrópole, que viraria apenas memória na mente dos jovens por um bom tempo, assim como Flamery City. As ruas movimentadas e barulhentas já não pareciam mais tão ruins naquele momento.

                –Vou ficar com saudades daqui... Foi onde ganhei minha primeira fita, nunca vou esquecer... –Falou Drake pegando o objeto do bolso.

                –Olha Drake, se não me engano o Grande Festival vai ser sediado aqui mesmo... Provavelmente você vai competir nessa mesma cidade se conseguir as cinco fitas. E uma nova te espera em Tranmency Town –Sorriu o jovem.

                –É verdade! Aposto que vou ganhar lá também. Pretendo usar a Lepidler nas preliminares e o Chipnut ou o Spark para batalhar. –Explicou o jovem olhando para o céu como se estivesse sonhando acordado com sua competição.

                –E seu Eevee? Deve dar mais valor para ele, em pouco treino ele pode se tornar um Pokémon exemplar... Ele pode evoluir para dez Pokémons diferentes!

                –Ele é só um bebê, não conseguiria ver ele se machucando em uma arena... Espera, dez Eeveelutions? Eu pensei que só tinha sete!

                –Três foram descobertas em Kanto, duas em Johto, e duas em Sinnoh... Você pode evoluir para os cinco primeiros em qualquer lugar, já os dois últimos podem ser evoluídos em Unova ou Sinnoh, e talvez aqui em Ethron mesmo, mas não tenho certeza.  E mas três foram descobertas aqui. Provavelmente são tipos Steel, Flying e Bug...

                –Wow! Steel deve ser muito louco! Como será que evolui assim?

                –Desconheço, mas posso pesquisar... –Concluiu ele.

                O clima estava bom para caminhar em uma rota, mas para uma cidade movimentada parecia que estava muito mais quente. Drake e Sam retornaram para o Pokémon Center após poderem dar uma última olhada na cidade que trouxe tantas dúvidas e tantos benefícios. Lilly já os aguardava na porta, a saída norte da cidade fora liberada e após despedirem–se da Enfermeira Joy.

                –Você sabe alguma coisa sobre Tranmency Town, Sam? –Perguntou o garoto de cabelos azuis.

                –No guia consta que é uma cidade tranqüila, conhecida pela famosa Torre de Rádio de Ethron. –Disse ele folheando seu guia

                –Torre de Rádio? –Questionou Lilly.

                –Isso, responsável por transmitir programas de rádio e servir de antena para os Pokégears. –Explicou ele lendo um trecho do livreto.

                –Legal, meu Pokégear deve pegar melhor lá. –Comentou Drake pegando o objeto de sua mochila.

                –O quê? Você também tem um Pokégear? –Perguntou a garota.

                –Claro. Nativo da região do Pokégear. Comprei quando fui estudar com o mestre Pryce. –Gabou–se ele –Me passa seu número?

                –Melhor não, vai que você me liga.

                –Espera aí, Lilly. Se você tem um Pokégear por que não liga para seus pais? –Perguntou Sam deixando a garota em um beco sem saída.

                –P–porque eu não sei o número deles, ora! Agora esquece meus pais! –Falou ela quase que dizendo aquilo para si mesma e não para os dois amigos.

                Finalmente a Rota 304 estava sendo iniciada. Não era muito diferente de outras que eles já haviam andado, mas não era algo ruim. Nas gramas escondiam–se poucos Pokémons, a maioria procurando comida. Harppys sobrevoavam e cortavam o lindo céu azul e chegavam aos seus ninhos nas grandiosas árvores. Certamente as rotas eram os únicos lugares do continente que guardavam as belezas da natureza, já que grande parte já havia sido destruída para construção de grandes cidades como Aurora City.

                Alguns treinadores apareciam e chamavam os jovens para batalhar. Drake usava seu novo Chipnut, que parecia caçoar da cara do garoto. Ainda que tivesse sido capturado o Pokémon continuava a brincar com o jovem, fazendo–o sempre o perseguir e acabar sendo derrubado pelas peripécias do esquilo que era muito audacioso. Lilly usava sua Harppy, que parecia elétrica, sempre pronta para batalhar e ouvir os comandos de sua dona, o que era bom. Lilly estava formando uma boa equipe, apenas o que faltava para ela era mais experiência e conhecimento do lado técnico e teórico das batalhas, porque no prático a garota batalhava como ninguém, além de precisar de um time mais balanceado. Até Sam entrava em algumas batalhas, usando seu pequeno Seedush apenas para diversão.

                Aos poucos o movimento ia cessando, pois a hora de almoço fazia com que os treinadores que normalmente eram crianças retornassem para suas casas terem alguma refeição. Os três ouviram passos e viram que não eram de simples treinadores, o que os fez entrar atrás de umas moitas e árvores que se encontravam juntas. As figuras que surgiam eram dois homens conhecidos, pertencentes à equipe Dark, além de um bando de soldados que os seguiam incansávelmente.

                –Droga, por que nossa mestra não para de economizar em helicópteros baratos que não chegam sequer no destino programado? E nós temos que ir à pé? –Reclamava um dos homens que certamente era o dono daquele Houndoom, chamado pelos outros de Grimm

                –Deve ser aquele cara que está falindo de novo. –Disse o outro em um tom de deboche, seguido de uma gloriosa risada. O homem certamente era o dono do Whirlipede da Fuego Ironworks, chamado de Fear pelos outros

                –Se aquilo se repetir será extremamente desagradável. Sinceramente estamos nas mãos dele e qualquer falha será nossa e tudo o que fazemos não passará de tempo perdido. –Desabafou Grimm ainda mantendo a pose de severidade.

                –Quando eu for sucessor da Mestra eu compro helicópteros bem caros pra você brincar, ta Grimm? –Riu o outro.

                –Só em sua fértil imaginação. –Contrariou ele. –Sinceramente odeio sair em público com meu uniforme. Todos olham como se eu fosse um ser mitológico ou algo do gênero. Pelo menos em Tranmency Town não farão idéia de quem somos e podemos agir em paz.

                Naquele momento os jovens pareciam tentar decifrar o que os vilões tentavam dizer. Era confuso, não fazia sentido para eles, não pareciam planos e sim simples desabafos. Sons de passos, desta vez mais abafados eram ouvidos mais atrás de todos. Sam olhou e praticamente levou um susto com a figura que se aproximava. Seu casaco era marrom e um chapéu ocultava sua face, sendo obviamente o homem que recebeu a P.A.S.T.A

                –A–aquele é... –Sussurrou ele tentando ver a face do misterioso homem.

                –Não olha agora tiozão, mas tem alguém seguindo a gente. –Falou Fear olhando discretamente para trás.

                –Droga, se for algum policial estaremos fritos. Melhor pararmos e tentarmos despistá–lo. –Concluiu o outro.

                Certamente sair em público com uniformes de uma facção criminosa era um pedido para serem presos, porém não havia mais nada que pudessem usar ou fazer, e aguardaram apenas o homem passar, para descobrir se os seguia ou se apenas estava de passagem. Após alguns segundos de mistério o homem continuou o caminho, deixando óbvio que não seguia a equipe Dark.

                –P–preciso seguir aquele homem. –Sussurrou Sam levantando–se e não se dando conta de que havia os denunciado para os antagonistas.

                –Maldição, eles de novo? O que fazem, estão nos rastreando? Como sempre nos encontram? –Praguejou Grimm –Vamos encerrar isso aqui e agora nessa mesma rota. Honchkrow, agora é pra valer.

                –Legal, podemos pelo menos parar para brincarmos um pouco? Garbodor, encontramos brinquedinhos pra você!

                Ao dizer as palavras dois Pokémons saíram das respectivas Pokéballs. Da Pokébola de Grimm saíra um corvo grande, cuja coloração era escura como o céu de uma noite sem estrelas. Uma plumagem branca tomava seu peito que era inflado, dando a impressão de autoridade. Em sua cabeça as penas pareciam formar um chapéu, o que o dava um aspecto macabro, unido aos frios olhos do ser. O segundo era um Pokémon esquisito, semelhante a um saco de lixo todo coberto por musgo e mais lixo. Parecia que o Pokémon unia tudo aquilo de mais nojento e podre em seu corpo, e usava aquilo como seu poder. Quando ele se revelou, um cheiro podre foi exalado. Era um Pokémon que certamente ninguém gostaria de tocar.

                –H–Honchkrow? Um Pokémon de Sinnoh? E um Garbodor de Unova?  –Disse Drake confuso.

                –Não necessariamente. Ele pode ter sido capturado em Johto tal como aquele Houndoom –Concluiu Sam. – Já o Garbodor com certeza é de Unova. Eles tem Pokémons de outras regiões à disposição.

                –Eu vou lutar com o Fippy! Usa o seu Eevee, Drake! –Disse a garota.

                –Quê? Claro que não, ele é só um bebê, não pode ir em uma batalha perigosa dessas dessas. Mas posso usar o Chipnut.

                Os Pokémons tomaram posição de batalha. Chipnut continuava sorridente e saltitando no mesmo lugar, quase que hiperativamente. Fippy já fizera sua expressão de seriedade, mas era quase apagada pelas gracinhas de Chipnut. A batalha era complicada, Honchkrow e Garbodor eram ótimos no Status de Attack, e por terem alcançado suas últimas evoluções tinham grande vantagem.

                A batalha parecia estar perdida, quando um misterioso Pokémon surgiu do nada e atacou os dois outros Pokémons. Era uma espécie de sapo azul que usava bandagens, como um lutador, e suas bochechas laranjas aumentavam e diminuíam de tamanho. Seus olhos eram de alguém que não estava para brincadeira. O homem que o comandava era o mesmo visto alguns minutos atrás, que havia passado pelos vilões e agora voltara para impedi–los.

                –Droga, Houndoom, SmokeScreen.

                O Houndoom já usado antes aparecera mais uma vez, agora apenas lançando uma cortina de fumaça, e obviamente quando ela se dissipou eles já não estavam mais lá. O homem retornou seu Pokémon e pretendia sair, porém Sam o parou.

                –S–senhor... L...? –Sussurrou ele como uma pergunta, receoso por citar aquele codinome.

                –L?  Você conhece esse cara? Ele parece meio sinistro... –Disse Drake olhando de lado.

                –E–eu... Não posso contar muita coisa. Desculpem–me gente! –Desculpou–se ele. –Senhor L, o senhor está bem?

                –É o garoto que me entregou a P.A.S.T.A, estou certo? Samuel Deacon, neto de Silver Deacon... É um prazer, mas pedi para que mantivesse distância destes criminosos. Eles são impiedosos obrigatoriamente, então garanta que se afastará deles. –Disse ele ajeitando seu chapéu cuidadosamente, para que seu rosto não fosse visto.

                –Eu gostaria senhor, mas eles sempre acabam onde estamos indo! Acho até que alguém praguejou para que isso acontecesse! –Disse ele fazendo o homem sorrir ligeiramente.

                –De certa forma eu não me surpreenderia que eles te perseguissem. Porém estou tentando descobrir um pouco mais sobre eles. Se me dá licença... –Concluiu ele afastando–se.

                –Espere! Ainda não me explicou o que é a P.A.S.T.A, nem os planos dos Darks, ou algo mais... E por que não mostra sua face? –Questionou Sam.

                –A vida é cheia de segredos, Samuel. Nem tudo pode ser explicado no momento, mas o futuro pode sorrir e responder–lhe. Sinceramente, eu também gostaria de compreender os planos dos Darks, mas ainda estão além de minha compreensão.  –Explicou o homem retirando–se do lugar.

                –Pode ao menos me dizer seu verdadeiro nome?

                –Chame–me apenas por “L”, pois não quero ser reconhecido, ninguém conhece meu rosto ou meu nome, e não pretendo revelar a ninguém. Por favor, não espalhe para ninguém sobre nossos encontros ou sobre mim mesmo, pois muitos desconhecem quem “L” é, e esse é o objetivo. –Concluiu ele.

                O homem aos poucos distanciou–se, desaparecendo nas sombras rapidamente. Para onde ia sempre era um mistério.

                –L? Sam, pode me explicar o que está acontecendo? –Perguntou Drake.

                –Sinceramente? Eu também gostaria de saber... –Suspirou o jovem.

                Sam começou a explicar sobre tudo para os amigos. Explicou desde quando recebeu o e–mail misterioso, a P.A.S.T.A e o encontro deles com os Darks na Rota 302. Com tudo explicado parecia que mais perguntas vinham para a cabeça dos jovens, que era o mesmo que acontecia com Sam.

                –Então a Equipe Dark estava atrás da tal “P.A.S.T.A”e precisa dela pra alguma coisa...? –Perguntou o garoto.

                –Precisava, porque eles não mencionaram mais nada, só algo sobre P.A.S.T.A A,mas não sei o que isso significa. Mas por favor, não contem nada para ninguém! –Implorou Sam.

                –Relaxa, Sam, não é o tipo de segredo que eu gosto de espalhar. –Falou Lilly

                –Hm...Isso não me deixa relaxado... –Disse ele.

                 E o caminho para Tranmency Town fica mais difícil com o encontro com dois membros notáveis de uma facção criminosa. Porém, o misterioso L foi capaz de ajudar nossos protagonistas, e causar ainda mais perguntas nas cabeças deles... E em nossas também. Quando se fala de uma facção criminosa nada é certeza...