Capítulo 12.5

                 Era um dia claro, onde o céu estava límpido e agradável. Porém, nem isso era o suficiente para tranqüilizar a casa da família Eavans naquele mesmo dia. O filho caçula do casal iria para a escola pela primeira vez, este com seis anos. A mãe penteava o cabelo do garoto e arrumava seu uniforme enquanto ele se queixava.

                –Mãe, por que eu tenho que ir para a escola? –Perguntava ele como uma manha de criança.

                –Filho, há dois anos você já deveria estar estudando na escola, até que você esperou bastante. Eu entrei com quatro anos. –Comentou ela tentando consolar o menino.

                –Mas o tio Blake disse que a escola é uma droga! –Disse ele de braços cruzados. –Que você tem que obedecer os professores, e fazer lição e...

                –Filho, a escola é maravilhosa! Foi onde eu fiz melhores amigas que conheço até hoje. –Interrompeu ela. –Tenho certeza que irá adorá–la!

                –Mas mãe, você é de Sinnoh! Sua escola era diferente. –Rebateu ele tentando encontrar qualquer desculpa para escapar.

                –Ah filho, você ficará bem! –Encerrou ela levando–o para a mesa almoçar.

                O garoto ainda parecia não ficar contente com a idéia. Ele não havia tido muito contato com crianças devido aos trabalhos dos pais que eram sempre ocupados e seu irmão ter grande diferença de idade. Drake não sabia como seria estar cercado de crianças novas e estranhas. Ele chegou e logo foi recepcionado pela professora, que parecia muito simpática.

Ela o levou para a classe e o colocou–o na frente de todos. Drake estava trêmulo, todos o observavam fazendo comentários e sussurros com os colegas próximos. A professora silenciou todos e fez uma simples introdução, porém dando ênfase aos detalhes.

                –Bom crianças, esse é um novo aluno, ele se chama Drake Eavans, e é filho da famosa coordenadora Alice Eavans e do campeão da liga, Nolland, não é fantástico? –Ao mencionar aquele frase todos olharam para o garoto com outros olhos. –Todos sabemos que o primeiro dia é assustador, então tratem ele bem.

                Por um lado parecia legal conhecer o filho de duas figuras muito importantes para Ethron, porém por outro os garotos mais velhos chegavam e caçoavam do menino, fazendo com que ninguém ousasse elogiar, já que as crianças mais novas tinham medo das mais velhas naquela escola.

                –Olha se não é o filhinho da mamãe e do papai... –Falava um passando com uma expressão de severidade.

                –O protegido de Ethron! –Brincava outro deixando o garoto sem palavras

                –N–não é assim! Eu não sou assim! –Dizia ele tentando explicar–se, porém era praticamente ignorado

                –É sim, deve viver na sombra dos pais e do irmão mais velho! –Acusava o primeiro desmentindo o garoto.

                –E ainda é metido de falar que não é assim! –Completou o outro.

                –Eu já disse que não sou assim! –Falou Drake cerrando os punhos.

                Os insultos continuaram, até que Drake começou a correr, atingindo o jovem na lateral de seu rosto com um potente soco, que fez o garoto cair no chão segurando a bochecha. Todos pareceram espantar–se, com o garoto novato tentando revidar a ação praticada por outros alunos. O menino continuou na mesma posição, um pouco trêmulo e não acreditando que tivesse se soltado até tal ponto.

                Daquele momento em diante todos os conselhos da mãe de Drake foram por água abaixo. O garoto passou a ser mal visto pelas outras crianças, sendo considerado agressivo e foi praticamente ignorado pelos outros. Todos falavam dele como se fosse um ser nojento e desagradável, e o garoto não achava outra alternativa à não ser continuar batendo nas pessoas, o que o tornou um garoto frio e agressivo. Os meses se passavam e Drake acabava sendo um peso para a escola, levando suspensões e advertências em vários momentos. Apesar de novo, já era alguém que temiam por machucar todos que o desafiavam e o provocavam.

                –Ow! Moleque! Fiquei sabendo que você anda batendo por aí em outras pessoas! –Falou um garoto que aproximava–se. Ele tinha pelo menos quatro anos a mais que Drake.

                –Que te interessa o que eu faço? –Respondeu ele friamente sem olhar para trás.

                –Só tem lugar pra um valentão por aqui, e sou eu. –Disse ele perseguindo o menino

                –Eu não sou valentão. Só não gosto que me encham a paciência! –Concluiu ele.

                –Pois bem, agora vai ter que gostar de apanhar. –Falou ele colocando a mão no ombro de Drake.

                Em poucos segundos o garoto se viu cercado por outras crianças que gritavam “briga, briga!” e o impediam de fazer qualquer fuga. Ele então começou a tentar acertar o jovem que o ameaçara, porém ele o deteve várias vezes, por ser mais velho e assim mais forte acabava machucando Drake e o arremessando para todas as direções que bem entendesse. Os alunos que assistiam a cena torciam contra o pobre garoto que praticamente batia em todos que o desafiassem.

                No fim não havia mais escolhas. Drake encontrava–se no chão, trêmulo e segurando sua barriga, que doía devido aos socos e pontapés que levara naquela região. Um de seus olhos permanecia arroxeado e sua boca estava um pouco cortada. Em vários pontos o garoto estava ralado e em alguns sangrando. O garoto por fim deu um chute na barriga de Drake, e seus cúmplices fizeram o mesmo e todos que passavam riam do garoto que jazia no chão. Eles haviam sido vingados e para eles, era um verdadeiro “bem feito” o que acontecera. Todos se dissiparam do lugar, permanecera apenas uma pequena garota de cabelos castanho–claros, que aproximava–se aos poucos do menino.

                –Você precisa de ajuda? Eu te ajudo a levantar. –Dizia ela com um tom de voz doce e infantil ao mesmo tempo.

                –Não. Não preciso da sua ajuda. –Disse ele friamente empurrando a garota e levantando–se sozinho, ainda que com muita dificuldade.

                –Você está machucado! E alguns lugares podem inflamar, vem aqui. –Disse ela puxando o garoto e pegando uma maleta. –Minha tia trabalha no Pokémon Center e eu já vi como ela faz alguns curativos.

                Ela passou algumas pomadas e usou gelo em certos lugares, colocando band-aids e bandagens em outros. O garoto gemia e debatia–se, porém apesar de jovem, a menininha sabia o que fazia, e aos poucos o menino sentia–se até melhor.

                –Obrigado. –Agradeceu ele saindo do lugar sem dar continuidade à nada.

                –Espera! Você ainda não está tão bem. Pede para um amigo te ajudar a fazer as coisas. –Sugeriu ela correndo atrás dele.

                –Eu não tenho e nem preciso de amigos. –Respondeu ele friamente.

                –Você não tem amigos? I–isso é horrível. –Falou ela sentindo como se fosse a pior coisa do mundo.

                –Para quê se precisa de amigos, afinal? –Falou ele ainda sem olhar para trás.

                –Os amigos são o bem mais precioso da vida dos humanos. Você pode fazer muitas coisas sozinho, mas com amigos tudo é mais simples e divertido. É alguém para confiar e conversar... –Disse ela. A garota era muito pequena para se dar conta, mas havia dito uma frase linda, que realmente mudaram a cabeça do garoto. – Eu posso ser sua amiga.

                –V–você? Mas ninguém gosta de mim, todos me odeiam! Como vai ser minha amiga assim? –Disse ele temendo a si mesmo.

                –Eu quero, e vou ser sua amiga! Meu nome é Melissa, sempre estudei na mesma sala que você mas nunca nos falamos. –Apresentou–se ela.

                –Meu nome é Drake. –Disse ele com um sorriso estendendo a mão.

                Aquele era o início de uma boa amizade. Meses mais uma vez passaram, e Drake continuava com a fama de agressivo, ainda partindo para a briga para naqueles que mais o provocavam. A amizade com Mel era um bem para ambos, pois o garoto aos poucos aprendia muitas coisas com ela, coisas pequenas mas que nunca havia tido chance de conhecer pois nunca tivera um verdadeiro amigo de sua idade. E ao mesmo tempo ele a defendia em certos momentos, de garotos “adiantadinhos” ou de pessoas que a insultavam, já que a garota não tinha coragem de levantar a voz para ninguém.

                –E vocês percebem aquele cabelo azul? Parece uma Ponyta Shiny. S–e–m–c–l–a–s–s–e! –Disse um garoto chamado Chad, que estava junto de algumas meninas em um dos corredores do colégio.

                –Ai Chad, você é muito engraçado... E aquele dia que ele veio com meias diferentes? Ai eu rachei! –Falou uma menina, essa provavelmente a líder do bando.

                –Sinceramente ele é uma desgraça! Não faz nada direito, a única coisa que ele se sai bem é Educação Física. –Disse outra menina.

                –Bem, pode ser que quando crescer ele fique um gato e ainda sarado se fizer esportes assim! –Completou outra abanando–se e fazendo as meninas pararem um pouco para pensar.

                –É... Mas para isso a Ponyta ainda vai ter que trotar muito! –Falou Chad fazendo todas caírem na risada.

                –Oi pessoal! Sobre o que estão falando? –Perguntou Mel aproximando–se.

                –Ai, acabou a graça. –Falou a garota que liderava as outras.

                –Qual o problema? Eu pensei que nós íamos lanchar juntas hoje mas eu não achei vocês, onde estiveram Lara? –Perguntou ela...

                –Bom querida, o problema é que você anda com o Drake.... –Explicou uma das garotas que estavam com Chad.

                –E daí? Ele é...

                –Ele é ridículo, mal–educado e todos odeiam ele. Como você quer ser popular se anda com gente assim? –Disse Lara fazendo a garota calar–se.

                –M–mas... Para ser popular precisa de tudo isso? –Perguntou a menina confusa.

                –Claro, acha que a fama vem de graça? Somos conhecidas, mas cairão na risada se souberem que você continua com aquele infeliz!

                O que ninguém sabia era que Drake estava na sala ao lado, de detenção. Ele havia notado os comentários e observava toda a cena surpreso. Ele sabia que Melissa gostava daquele grupo de meninas mas se ele continuasse com ela, Mel ficaria sem elas. Ele pediu licença para beber água e saiu da sala, acertando o ombro em Mel propositalmente no percurso.

                –Hey, quer dar licença? Parece que eu já te vi antes... –Disse ele apontando para a amiga como se não a visse há anos.

                –Drake? Claro que viu, sou eu, a Mel...

                –Ahh ta, a menina que ficou fazendo trabalho extra comigo. Lembrei. Até que enfim acabamos aquele trabalho que a professora nos obrigou, senão íamos ter que andar juntos. –Mentiu ele deixando a menina com cara de boba. – E à propósito, Chad, sua calça está ao contrário.

                –O QUÊ??? COMO? –Gritou Chad dando–se conta de que sua calça realmente estava ao contrário, motivo pelo qual pessoas riram dele a manhã toda mas ele não havia se dado conta.

                –Ahn? C–como assim? Trabalho? –Disse Mel porém em vão pois o garoto já havia saído.

                –Ahh então você não estava sendo amiga dele! Ufa, ainda bem! Então podemos viver sossegadas! –Disse Lara suspirando.

                Mel continuava confusa com tudo. Ela chamara Drake mas em todos os momentos ele a evitava. Parecia que queria manter–se longe da presença dela por alguma razão. Quando o sinal ecoou pelos corredores e todos saíram a garota o encontrou e foi tirar satisfação.

                –Drake, por que você fez aquilo? –Perguntou ela

                –Sabe, Mel... Eu vi tudo aquilo. Você é uma ótima pessoa, todos gostam de você. Mas ninguém gosta de mim. Não faz sentido você perder todos os amigos por minha causa. Então vamos fingir que nada aconteceu, assim acho que é melhor para você. –Falou ele em uma voz tranqüila, sendo a primeira vez que ela o ouvia falar assim.

                –O quê? M–mas Drake! –Gritou ela porém o garoto não virava e nem respondia, desaparecendo aos poucos.

                Melissa tornava–se cada vez mais popular pois seu jeito gentil e companheiro sempre a fizera uma das meninas mais legais de todas daquele colégio, e ainda sem estar perto de Drake ela passara a ser mais valorizada. Ela sabia que Drake sofria por perder sua única amiga, e ficava com um peso na consciência por não poder mais fazer nada para ajudá–lo. Muitos meses se passavam assim, e Drake ignorava Mel a cada vez que ela fosse tentar falar com ele. Certo dia Drake chegara muito atrasado para a aula, fato que ocorria algumas vezes.

                –Desculpa professora. –Desculpou–se ele.

                –Chegou atrasado de novo, da próxima é suspensão! –Falou ela braba.

                –Não foi desta vez que ele foi suspenso. –Falou Lara decepcionada.

                –Quem sabe na próxima? –Disse Chad com os dedos cruzados.

                O dia se passara e no horário do intervalo, Mel levara seu diário para o lanche, como era seu costume. Um garoto porém o pegou apenas por gracinha e começou a tentar ler alto. Drake ao ver a cena não se conteve, e cutucou o garoto no ombro. Quando ele virou–se fora arremessado contra o chão por um soco que lhe fora desferido no rosto, e o diário caiu. Drake pegou o pequeno livreto e entregara para a garota, que jazia quieta, não acreditando no que o amigo fizera para ela.

                –O–obrigada. –Agradeceu ela recebendo um sorriso de resposta.

                –Eca, não fala com ele. –Disse Lara.

                Aquela frase pareceu subir na cabeça de Mel, fazendo a garota fazer uma expressão de raiva profunda, que sentira por muito tempo. Cada insulto que ouvia sendo dito pelas costas de Drake parecia–lhe uma facada no peito, e finalmente ela começara a liberar todo o seu ódio.

                –Quer saber? Eu cansei! Ele mentiu! Nunca fizemos trabalho algum, éramos bons amigos o tempo todo. Porém ele disse que abriria mão da nossa amizade para que eu fosse feliz com vocês.  –Resumiu ela gritando, fazendo todos olharem para ele confuso.

                –Credo! Ele não faria isso, só pode ser mentira, não tenta defender ele! –Falou a garota puxando Melissa pelo braço.

                –E se for Mel, então se decide querida, ou ele ou nós. –Falou outra menina.

                –C–como assim? Se eu escolher o Drake não sou mais amiga de nenhuma de vocês? –Disse Mel trêmula.

                –Exato. É bom que faça a escolha certa. –Disse Lara.

                A garota pareceu congelar por um momento. Ela abaixou a cabeça e virou–se para o garoto de cabelos azuis.

                –M–me desculpe Drake. Mas...

                –T–tudo bem Mel, pode ir. –Disse ele segurando a mão da menina.

                –...Mas eu vou ter que anular tudo o que você fez por esses meses. É claro que vou te escolher, seu bobo! –Disse ela sorrindo, fazendo o garoto parecer completamente espantado, assim como todos que estavam presentes.

                –P–para quê? –Disse uma das garotas.

                –Eu prefiro mil vezes mais o Drake que até abriu mão de sua única amizade para que eu fosse feliz que vocês que estavam dispostas a me deixarem se eu fosse amiga dele. Isso não é amizade, é falsidade! E odeio amizades falsas. Nunca deram uma chance do Drake mostrar quem ele é, e ele é um amigo maravilhoso. –Disse ela fazendo o garoto derramar singelas lágrimas

                –Então divirta–se com seu “amigo” –Disse Lara coberta de inveja puxando as amigas.

                –Mel... Obrigado... –Agradeceu ele.

                Daquele dia em diante Drake passou a ser mais aceito pelas crianças da escola, porém ainda quando o provocavam ele continuava saindo no braço. Certos hábitos nunca mudam. Mel apesar de parecer que ia ser completamente ignorada continuou como uma das meninas mais populares, devido ao seu jeito dócil, sendo amiga de praticamente de todos, com exceção das meninas falsas que a desprezaram, que aos poucos caiam no esquecimento das pessoas. Drake viu pela primeira vez que a escola poderia ser um lugar ótimo, quando se está com ótimas companhias.

                –Só uma coisa eu não entendi até hoje... O Chad passa meia hora se trocando, como ele errou a direção da calça? –Disse Mel enquanto caminhava com Drake após a escola.

                –Ahh... Ele deixou ela de bobeira enquanto tomava banho no vestiário então eu mudei o lado da etiqueta. –Disse Drake com uma expressão de espertinho.

                –Ai você não tem jeito, né? –Sorriu a garota abraçando o amigo.