Shoreside Town era uma das
melhores cidades de Ethron.
O
calor predominava naquela manhã, de forma que muitas pessoas viajassem para a
pequena cidade litorânea, a fim de aproveitar o tempo nas melhores praias que o
continente poderia oferecer. A areia branca e macia, o mar de tons turquesa e
verde claro, os pontos agradáveis para se visitar... Tudo era atrativo.
Drake,
Lilly e Sam haviam chegado na cidade tarde da noite, de forma que sequer
pudessem reparar que havia uma praia por lá. Apenas adentraram o Pokémon Center
e descansaram, almejando encontrar um local mais agradável para passarem os
próximos dias.
Os
jovens saíram do estabelecimento na manhã seguinte, fitando a praia maravilhosa
e paradisíaca que os aguardava. Drake parecia completamente feliz, não sabendo
por onde começar a diversão, exclamando logo em seguida:
—Sol.
Areia. Água! É praia, rapaz! Não tenho dúvidas!
—Que
maravilha abandonar aquele frio costumeiro. —concordou Sam.
Lilly
pisou suavemente na areia com o tênis, tendo uma sensação estranha. Não era o
concreto, a madeira, ou a terra em que estava acostumada a pisar, era macio e
modelava-se conforme seu pé afundava.
—Essa
areia é... Esquisita. —comentou.
—Como
assim esquisita? —indagou o amigo. —Vai me dizer que você nunca esteve numa
praia?
Lilly
hesitou.
—Na
verdade não. —respondeu. —Meus pais não tinham muito tempo para viajar,
entende?
Os
pais de Lilly. Sam ouviu as palavras proferidas pela garota com cuidado. Ele
ainda não tinha ciência de quem eram seus pais, mas pelo pouco que ouvira, a
menina não tinha tantas boas lembranças destes. Apenas se perguntava por que
ela receava em contar quem eram.
—Vem
cá, essa areia vai ficar assim mesmo? Dificultando que eu ande? —resmungou a garota.
—É
assim mesmo, mas você acostuma.
—O
que torna isso tão bom quanto dizem? —perguntou.
—Tá
brincando? Um mar lindo pela frente, sol pra aquecer os ânimos, comida típica
do quiosques beira-mar, lindas moças de biquini... É tudo perfeito! —respondeu
Drake, em êxtase. —Sem chatice, vamos logo entrar!
Por
sorte, o que não faltava em Shoreside eram lojas de roupa de banho. Puderam
conseguir roupas simples, apenas para passar aquela semana na cidade. Os três
vestiram-as, e logo em seguida olharam para a linda praia pela frente. Nenhum
deles teve coragem de reclamar daquela situação, pois a vista não poderia ser
mais perfeita.
A
água era cristalina, em tons que iam do azul ao verde, e era possível até mesmo
ver o fundo, quando as ondas não vinham e levantavam a areia. O céu
completamente sem nuvens era pouco mais claro que o mar, naquela profundidade,
demarcando a linha do horizonte. A areia fofa era branca, e ninguém ousava
poluí-la, como acontecia em outros lugares.
Drake
pediu para que um homem colocasse o guarda-sol em um local específico, e também
solicitou três cadeiras. Escolheram um local mais calmo, onde poderiam apreciar
aquela beleza natural de perto. Caminharam até o ponto, ouvindo outro
comentário de Lilly.
—O
chinelo fica saindo.
—Então
tira ele. —respondeu Drake.
Até
que não parecia má ideia, afinal, a areia não era suja. Ela tirou o calçado,
depositando os pés pálidos na areia macia. Lilly não foi capaz de acreditar
naquela sensação maravilhosa. Incomodava, mas era um incômodo bom. Ela sentiu a
emoção de não ter os pés aprisionados e protegidos, sentiu a realidade. Aquele
momento estava incrível.
—Isso
me faz sentir livre.
Drake
não esperou ninguém para correr em direção da água, indo nas ondas de barriga e
mergulhando de cabeça, após a profundidade certa. O rapaz soltou um grito de
alegria, não se importando que os outros ouvissem. A água estava refrescante,
principalmente naquele calor.
Lilly
pediu para Sam ir com ela também. Ela tinha medo daquele mar, afinal, ele ia
até onde os olhos alcançassem, e sabia que sua profundidade era preocupante.
Como as pessoas poderiam nadar tão tranquilamente, sabendo que poderiam ir
parar do outro lado do mundo, ou serem sugados para as zonas abissais do
oceano. Ou ainda se depararem com criaturas horrendas e assustadoras jamais
vistas antes.
—Nada
disso vai acontecer com você. —disse Sam. —C-Confie em mim.
A
menina sorriu delicadamente.
—Eu
confio.
Um
ao lado do outro, avançaram para a água, a passos curtos e lentos. Drake os viu
e fez sinal para que se aproximassem, indo para uma zona menos profunda, onde
Lilly poderia se sentir confortável. Ela agradeceu mentalmente pelos amigos
compreensivos que tanto caçoava, pois apesar de não dizer, ela os amava.
Uma
pequena ondinha tocou os pés de Lilly e de Sam, de forma que a garota pudesse
sentir pela primeira vez como era ser tocada pelo mar. Não era ruim, e a água
estava perfeita. Continuaram avançando, de forma que aos poucos a canela de
ambos ficasse coberta. Puderam sentir o vai e vem das ondas.
De
repente, as ondas foram puxadas para o mar, deixando-os fora da água.
—O mar levou a
gente de volta? —indagou a menina. A curiosa sensação do mar empurrar a pessoa
de volta.
—Não,
isso também é normal. —riu Sam.
E
voltaram a avançar, novamente parando quando a canela de ambos foi coberta.
—CACETA!
Alguma coisa tocou no meu pé! —gritou a garota, agarrando o braço de Sam. —Será
que é um Kingler?
—Um
Kingler não teria dez centímetros de altura. —brincou ele. —É apenas a areia do
fundo que foi levantada pelo movimento das ondas.
A
garota encarou a água, e quando a areia baixou, realmente não havia nada.
—É,
acho que você tá certo. Mas se eu for mordida, a culpa é sua! —brincou.
Sam
riu e continuou a acompanhá-la. Drake notou que a menina ainda não largara do
braço do companheiro, mas não disse nada, apenas sorriu com a cena. A passos
lentos, finalmente alcançaram o amigo, ficando com até a parte de baixo do
ventre coberta. Era uma sensação engraçada,
a água os puxava e trazia.
—Cara,
isso é… É muito legal! —exclamou a menina, afundando a cabeça. —Como pude viver
tanto tempo sem fazer isso?
Drake
e Sam trocaram um olhar de satisfação. Era divertido ver Lilly em momentos em
que a garota não tentava deixá-los para baixo ou tirava sarro de alguém. Poderiam
ter a boa Lilly ao seu lado, e não havia ninguém que pudesse tirá-la do sério
apenas com a presença. O tipo de momento que deveria ser aproveitado ao máximo.
A
menina brincou de espirrar água nos companheiros, rindo da reação dos mesmos.
Drake afundou na água e puxou o pé de Lilly, fazendo-a soltar um grito, e após
se dar conta de que era apenas uma piada, não fez nada, apenas caiu na
gargalhada e jogou água em Drake, que sorriu. Sam tentou entrar na brincadeira,
mas recebeu um jato de água duplo no rosto, antes que pudesse fazer qualquer
coisa. Novamente todos riram da situação.
Assim
permaneceram, até que as barrigas começaram a querer chamar a atenção com
roncos. Foram obrigados a deixar o mar para sentar sobre o guarda-sol que
pegaram. Lilly se perguntou se havia algo para comer na praia, recebendo um
aceno positivo dos amigos, que sugeriram pegar água de coco enquanto procuravam
algum lugar para comer.
Foram
a uma pequena barraca, onde o dono pegou três frutos grandes como bolas de
boliche e, com um facão, cortou o local certo para depositar um canudo. Lilly
pegou o seu e bebericou o líquido, que estava gelado e refrescante, suavemente
adocicado. Delicioso. Conseguiu sorrir e imaginar como sua vida mudara
positivamente nos últimos tempos.
—Qual
o gosto? —perguntou Sam, mostrando um sorriso de canto.
—Melhor
que eu imaginava. —respondeu.
Encontraram
um quiosque com uma vista privilegiada para a praia. Não era muito sofisticado,
arrumado, mas ainda transmitia um ar reconfortante, misturando o som do
liquidificador, com o som de uma chapa fritando, e o barulho das ondas se
quebrando ao fundo. O cheiro da maresia se misturava com o de fritura, mas nada
muito pesado.
Degustaram
os pratos típicos de frutos do mar, experimentando algumas coisas nada saudáveis
cujo aroma era capaz de entupir artérias. Mas ainda assim era muito saboroso.
Os amigos continuaram ás risadas, aproveitando o bom tempo e a companhia. Sem
rivais, sem interferências de outros. Apenas o trio.
—Então,
estamos de volta... O mesmo trio do início de jornada. —comentou Sam.
—É
estranho pensar que algum tempo atrás éramos desconhecidos. O que tínhamos na
cabeça para decidir rodar o mundo na companhia de estranhos? —riu Drake.
—Gente,
fala a verdade, a vida de vocês nunca seria a mesma sem me conhecerem. —brincou
Lilly.
—Isso
é verdade. —Drake fez uma pausa. —Só não sabemos se seria bom ou ruim.
Lilly
deu um soco no braço do amigo, e os três caíram na gargalhada novamente. Era
bom, mais ao mesmo tempo estranho, era o mesmo trio de alguns meses atrás. Como
podiam ter tanta intimidade e amizade assim?
—Lembra
de quando nos encontramos pela primeira vez? —indagou Drake.
—Lembro.
—respondeu Lilly de cara feia. —Foi quando veio um idiota e espantou os
Pokémons iniciais e eu fui obrigada a caçar os malditos. Besta desde o
princípio...
—Ei,
ei, respeito! Sem mim você mal saberia como começar uma batalha, se lembra?
—Querem
reclamar? Imaginem vocês chegando de viagem e tendo que sair por aí para
entregar uma droga de pasta, encontrar duas crianças, e ser perseguido por uma
facção criminosa. —sorriu Sam.
—Verdade.
Não tive uma boa impressão de vocês no começo. —respondeu Drake. —Nunca tive
com pessoas, era difícil ter contato com elas.
—Eu
também não. Parece que minha personalidade cria uma barreira contra os outros.
—disse a menina chateada.
—E
eu, que sempre fui o nerd do colégio, que só podia se aproximar dos outros
quando era pra fazer trabalho com eles? Digo, para eles.
O
trio refletiu por um momento. Seria mesmo o destino, conforme Rachel disse,
eles se encontrarem? Três rejeitados que se encontrariam e seriam amigos, donos
do tipo de amizade mais forte existente?
Decidiram
sair do lugar e pagaram a conta, indo para as feiras famosas da cidade.
Tratava-se apenas de um conjunto de lojinhas caiçaras que vendiam todo o tipo
de bugigangas adoráveis: chaveirinhos, pulseiras, chinelos, roupas de banho,
decorações... Era impossível passar sem querer comprar alguma besteirinha, por
mais simples que fosse. Era como se a simplicidade dos objetos chamasse a
atenção justamente por isso, por serem básicos.
Lilly
tinha seu cabelo preso em um rabo de cavalo, e pareceu realmente se identificar
com aqueles adornos, por não serem tão chamativos e do tipo que alguma
patricinha usaria. Viu pulseiras feitas a mão, com barbantes coloridos, e
aquilo chamou sua atenção. Cada um dos fios entrelaçava-se, formando uma coisa
só. Ela observou aquilo, e procurou seus amigos com os olhos, mas não
encontravam-se lá.
A
menina comprou algumas e as escondeu em seus bolsos, procurando Drake e Sam. Os
rapazes estavam em uma loja que vendia roupas para Pokémons. Drake pretendia
algo do gênero para sua competição naquela semana, quando competiria por sua
terceira fita. Queria algo diferente, algo belo baseado na beleza das praias e calor
da região, mas não sabia ao certo o que escolher.
—O
que eu faço amanhã? —indagou para Sam, os olhos correndo pelos enfeites.
—Sou
a pior pessoa para falar de moda por aqui. —disse. —Procure algo simples, como
as próprias lojas sugerem. O torneio vai estar repleto de ricos enfeitando
Pokémons com trajes de grife e coordenadores experientes usando combinações
baseadas nas novas tendências. Use a simplicidade para exibir seu Pokémon.
Drake
brilhou.
—Não
é que é uma boa idéia?
Os
olhos de Sam examinaram a feira, procurando por Lilly. Quase que no mesmo
instante ela voltou correndo para o grupo, animada. Estava um pouco corada, mas
com aquele Sol forte, isso não surpreendia muito os amigos. A tarde chegava aos
poucos, e a usaram para caminhar pelas lojas. Tinham seus artigos em mãos, e os
três carregavam seus ovos, aproveitando o momento para cuidar deles.
—Gente,
não ta na hora desses três eclodirem, não? —questionou o garoto de cabelos
azuis.
—Levando
em conta que foi o senhor Jefferson que nos deu eles, devem tratar-se de
Pokémons raros, de forma que demorem para estarem prontos para nascerem.
—explicou Sam.
Lilly
bufou.
—Eu
não agüento mais esperar.
Vez
ou outra sentia alguma criaturinha chutando por dentro, mas ainda não era hora
de nascerem. Os ovos haviam ficado um tempo depositados no Box, de forma que
ainda não estivessem prontos para nascer, realmente. Ainda demoraria um pouco,
pelos cálculos de Sam.
Voltaram
para a praia, quando o Sol começava a se pôr, a pedido de Lilly. O movimento
era bem menor, e o som das ondas chamava ainda mais a atenção. Agora ficava
tudo mais calmo, e o mar passava a ficar menos violento.
Lilly
escolheu um ponto bom, onde as águas batiam em seus pés. Os três já tinham
retirado os calçados, e ficaram olhando pela paisagem aproveitando o momento.
Todos se entreolharam, observando que agora não havia ninguém, só eles mesmos.
Lilly retirou do bolso três pulseirinhas simples e dirigiu-se a seus amigos.
—Eu
comprei para a gente. Sei que é uma coisa bem cafona, mas decidi comprar assim
mesmo, porque seria fofo. —ela entregou os objetos a cada um.
Os
garotos se entreolharam. Lilly sentimental? Impossível.
—O
roxo sou eu, o verde o Sam, e o azul o Drake. Todas estão entrelaçadas,
simbolizando nossa união. Sei lá, alguma coisa assim. —disse, envergonhada.
—Lilly,
isso é tão... Bonito... —suspirou Sam, ainda sem reação.
—Velho,
de onde tu tirou algo tão assim, poético?
—Verdade,
você leva jeito para isso. Estou até meio sem reação...
—Porra,
pega logo essas coisas antes que eu mude de idéia! —praguejou ela, corada.
Eles
riram e pegaram os adornos, cada qual ajudando o outro a colocar. Até mesmo Lilly
fora mudada ao longo daquela jornada, e sentiu que quando aquilo acabasse,
seria uma nova garota. Ou melhor, seria uma mulher, e seus amigos também seriam
novas pessoas. Mas a idéia assombrou sua mente.
—Gente,
daqui a algum tempo não vamos mais ter esses momentos... —suspirou.
—Por
que não?
Ela
estremeceu, e abaixou a cabeça.
—A
Liga, o Grande Festival, a Feira Ethron... E quando tudo isso acabar? E se a
gente não conseguir se tornar o que queria, ou se nos tornarmos, mas tivermos
que nos separar?
Todos
ficaram pensando naquilo por um instante. Podia-se dizer que haviam chegado
quase na metade de sua jornada, conhecendo pessoas e conquistando objetivos.
Mas era muito mais simples continuar a rotina do que se imaginarem em seus
últimos desafios, quando finalmente teriam que ser os melhores, e vencer os
melhores.
A
Elite, Sarah, Chad, Rose, Derek, Natsumi, Thomáz, Layla... Todos seriam rivais,
todos seriam inimigos. O fim não estava próximo, mas a cada dia estava mais
perto. Cada vez mais percebiam que precisariam aumentar ainda mais o ritmo se
quisessem mesmo serem capazes de peitar seus adversários, pois piedade não
poderia existir.
—Ei,
garota, você afastou todos os meus pensamentos negativos esse tempo todo... Não
permito que você pense assim! Levanta essa cabeça, você VAI cumprir o que quer.
—disse Drake.
—Sinto
informar-lhes, mas é verdade. Sou o encarregado de supervisioná-los, e não
pensem que se livrarão de mim tão fácil. Agora vocês já sabem tudo o que eu
poderia ensinar, terão que ser seus próprios professores. Mas sinto que se
sairão ainda melhor.
Eles
sorriram amigavelmente. As ondas quebraram-se em seus pés, e perceberam que a
maré estava subindo, molhando seus tornozelos. Era difícil crer que tudo
poderia mudar em questão de meses. Mas o melhor a se fazer era olhar para
frente e continuar treinando. O futuro
os aguardava.
O
instante pareceu durar séculos, e era isso que os amigos gostariam que tivesse
acontecido. Os três rejeitados que se encontraram e tornaram-se grandes amigos.
E futuramente mostrariam o que o mundo perdeu por não lhes amar tão fácil. O
sol deitava-se atrás do mar, enquanto que este jogava suas ondas para lamberem
a areia da praia em um movimento repetitivo.
Já
anoitecia, e os postes passavam a iluminar as calçadas, que eram cheias de
pessoas transitando àquele horário. O calor atraía as pessoas para fora de suas
casas para que fossem a algum dos bares ou quiosques e aproveitassem o clima de
frente para a praia, que agora estava calma.
O
oceano continuava com seu movimento de ondas incessante, puxando as conchinhas
da beira da praia para levá-las aos seus mais profundos reinos submarinos, onde
nenhum humano ousava chegar. Era uma imensidão azul que estava além da
compreensão total do homem.
O
trio sentava-se em um banco, tomando sorvetes que haviam encontrado por perto.
A brisa marítima refrescava-os ainda mais, de forma que não desejassem mais
nada daquele momento. Talvez apenas que seus outros amigos estivessem lá, ou
nem isso.
—O
mar é tão... Grande... —disse a menina, fascinada.
—E
não é? Eu sempre adorei ele... O homem vive explorando terras, mas a maior
parte do desconhecido ainda está debaixo da água. O fato de pensar que inúmeras
criaturas vivem nele, onde tudo começou, me deixa completamente perplexo.
Sam
e Lilly o encararam.
—Você
foi poético...
—...
E disse “perplexo”?
Ele
franziu a sobrancelha.
—Fui,
e disse. Qual é o problema? O mar é minha fraqueza. Tenho medo dele, mas ao
mesmo tempo curiosidade e vontade de explorá-lo.
Eles
ainda continuaram rindo, mas não por mal. O rapaz se cansou de tentar explicar
e virou de costas, irritado. Os dois o abraçaram em sinal de compaixão,
recebendo um gesto provocativo provindo do dedo do meio do garoto.
—Minha
próxima competição vai se basear nisso. —não conseguia ficar bravo por muito
tempo. —O Contest Hall daqui possui um palco cheio de água, e tentam dar
destaque para os Pokémons aquáticos.
—E
você não tem nenhum.
—Exato.
Ele
refletiu. Como venceria uma batalha aquática sem um Pokémon com capacidade de
se locomover neste meio? Tinha boas ideias para praticar em terra firme, mas
não na água. Tudo bem. Pensou. Alguma coisa vai aparecer.
Ele
tirou de seu bolso a Pokéball de Spark e o Emolga apareceu em seu colo
instantaneamente, o observando. Ele levou o Pokémon para a praia, de forma que
visse o pequeno ter seus olhos brilhando devido à paisagem nova para ele.
—Está
vendo isso, Spark? É o mar. As ondas do mar vem e vão, tiram e trazem.
O
Pokémon o observava.
—Quero
que entre comigo. —pediu. —Vamos tomar um banho nele, para que tire nossas
energias e traga novas.
O
Emolga assentiu, subindo no colo do treinador, pisou na areia macia, e foi em
direção das águas, que já estavam mornas. Sentiram a força do oceano contra
eles, puxando tudo aquele peso que carregavam e os levando para os confins do
oceano, para serem perdidos para sempre.
Drake
sequer se importou com o fato de estar vestido, isso apenas melhorou, já que a
umidade ficou presente em sua roupa e o refrescou. Lilly e Sam o seguiram e
entraram nas águas, mas a garota preferiu não lançar seu inicial, visto que
perderia seus poderes em contato com aquele monte de água.
—Então
o senhor inventou um ritual e não me chama pra fazer também? —brincou a menina,
dando-lhe a mão, e dirigindo a outra para Sam.
—Aproveite,
novas pessoas nascerão depois dessa. —piscou.
—Só
espero que o mar não leve meus óculos. A nova pessoa também vai precisar
enxergar. —disse Sam, os ajeitando.
E
acabaram saindo, renovados, ainda vistos como certos malucos por quem passava,
já que o horário não era apropriado para se nadar no mar, que estava escuro
pela negritude do céu, brilhando enquanto refletia as luzes do luar.
...
—Cara,
eu adoro esse lugar!
Uma
pequena pousada seria onde o trio se hospedaria naquela noite. Nada muito
sofisticado ou grande, mas o conforto daquele lugar era o mais notável. Tudo
arrumado, e mesmo sendo um quarto pequeno, foi suficiente para que todos
pudessem se acomodar bem. Lilly colocou uma roupa confortável para dormir,
assim como Sam, enquanto que Drake preferiu ficar sem camisa.
Havia
apenas um problema, que era o fato de ter apenas uma cama. Deveria ser uma
pousada própria para casais, pois era uma cama grande. Certamente deveriam
dividir o espaço se quisessem
Sam
deitou , sonolento, quando Lilly saltou encima dele de forma animada na
companhia de Drake, fazendo um montinho encima do Analyzer, que riu, mas ainda
ficou reclamando ao fundo.
—Montinho
no Sam!
—Malditos!
—brincou ele.
Os
três deitaram na cama do rapaz, ainda que ele estivesse coberto e que estivesse
relativamente quente. Ficaram conversando enquanto fitavam o teto, falando
sobre besteiras e brincadeiras, de forma que o dono da pousada recebesse reclamações
de risadas ao longo da madrugada no dia seguinte.
—Me
recuso a dormir com um homem seminu na mesma cama nesse calor. Principalmente
se for o Drake. —dizia Lilly rindo.
—Lilly,
eu to falando sério. Não pega bem eu ficar aqui do lado do Sam, homem com
homem, entende? —brincou. —Você é meio mulher, então pode.
—Como
assim meio? Cala a boca, desgraçado. —gargalhou, dando-lhe um soco.
Lilly
engatinhou pela cama enquanto que Sam foi para o outro lado, rindo. A menina se
deitou no meio e suspirou alto, pensando por um instante, voltando-se para
o Coordenador.
—Você
ta de shorts, né?
—Não.
—Drake!!
—É
mentira, fica calma. —riu alto.
Ela
se fez de incomodada, mas continuaram jogando conversa fora. Mesmo que
passassem todos os dias juntos, parecia que ainda tinham assunto de sobra para
conversarem. A garota se remexeu no meio, aproveitando a posição confortável e
segura entre os dois amigos.
—Como
eu estou no meio, se algum monstro sair debaixo da cama, eu vou estar seguram.
—refletiu a menina.
—Por
que você acha isso? —indagou Sam.
—Eles
iriam se voltar pra quem está mais na ponta, e como eu estou no meio, tenho
tempo de correr enquanto devoram alguém.
—Lilly,
se algum monstro sair debaixo da cama e vir a sua cara ele sai correndo com
medo. —disse Drake.
Ela
socou o ombro do rapaz, mas acabou rindo. Se não fosse com ela mesma, teria
rido mais. Sam apenas ria enquanto a situação não se voltava para ele, afinal,
sabia que a troca de elogios acabaria sobrando para alguém. Daqui a pouco vão falar da gordura
imaginária um do outro, mesmo ambos sendo magrelos. Pensou Sam.
—Você
é tão gordo, mas tão gordo que quando passa na frente da TV, a gente perde três
episódios. —ela riu da própria piada.
—E
você é tão gorda, mas tão gorda, que quando pula na piscina o ataque Splash realmente faz dano. —retrucou
Drake.
Desta
vez até Sam riu. Tinham um ganhador.
—Pegou
pesado.
—Quer
um abraço pra você se sentir melhor?
—Não.
—Ah
bom. Eu não ia abraçar mesmo.
A
madrugada passou rápido, até que o som de alguém batendo na porta ecoou pelo
quarto. Os três fitaram o retângulo de madeira iluminado pela luz refletida
pela lua, o que a tornava ainda mais aterrorizante. As batidas se repetiram,
até que o trio decidiu ir junto verificar do que se tratava, todos andando
cautelosamente.
Drake
foi o obrigado escolhido para abri-la. Tocou calmamente a maçaneta fria
e abriu a porta de uma vez, eles se deparando com um velho magricela e pálido,
com os cabelos espalhados e um olhar obscuro com olheiras, carregando um
pequeno lampião.
“WAAAAAAAAAAAAAAAAAAH”
—Crianças,
francamente. —disse o velhinho. —Sou eu, o dono da pousada. Estou recebendo
reclamações que ninguém consegue dormir com essa barulheira que vocês estão
fazendo! Por favor, silencio.
Ele
mesmo fechou a porta, enquanto que os três estavam jogados e amontoados atrás
da porta, esperando os batimentos cardíacos se acalmarem um pouco. Eles riram
uma última vez, e voltaram para a cama, decididos a dormir. Afinal, precisavam
de energia para o dia seguinte.
Lilly
se voltou para Drake instantes depois.
—Tira
o braço da minha barriga.
—Não
é meu braço.
—QUE
NOJO.
—Calma,
calma, calma, é mentira!
Mas
era tarde demais. Quando notou, havia sido chutado para fora da cama, tendo que
dormir no chão, junto com os monstros debaixo da cama.